O Brasil pode crescer sem uma legião de leitores?

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Este texto (de 2005) está mais para reportagem do que, propriamente, para uma crônica!

O artigo, e o quadro que ele apresenta, deve servir à reflexão de todos nós, pois aponta para uma situação que interfere diretamente na educação e na economia do país. Vamos preferir que cada um tire as suas próprias conclusões mas, de nossa parte, fica uma pergunta que em si mesma leva a nossa opinião: Pode um pais evoluir e se desenvolver sem formar um hábito crescente de leitura?

Recentemente, foi concluída e divulgada ao público uma pesquisa sobre Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro em 2003. O trabalho, realizado anualmente pela Câmara Brasileira do Livro e pelo Sindicato Nacional dos Editores e Livreiros, constatou queda de 8% no número de exemplares vendidos diretamente ao mercado, comparando-se ao resultado de 2002. 

No entanto, se forem levadas em consideração também as vendas ao governo, a queda no número de exemplares foi de 20%, uma vez que em 2003 não houve compras para o programa "Literatura em minha casa". Essa aquisição governamental foi realizada no início de 2004. Além disso, em 2002 foram concentradas as compras para o próprio ano e para 2003.

Para efeito desta pesquisa, o mercado editorial é dividido em quatro subsetores, quais sejam, Didáticos, Religiosos, Obras Gerais e os chamados CTP - Científicos, Técnicos e Profissionais. Entre eles, o primeiro foi aquele que apresentou o melhor resultado, com crescimento de faturamento (16%) e de produção (9%).

O faturamento geral do setor cresceu 8%, consideradas as compras de governo, e 6% se calculadas apenas as vendas ao mercado. No entanto, esse resultado é inferior à inflação do período que, segundo o IPCA, foi de 8,95% em 2003.

No estudo, também é considerado um fato relevante: a renda média do brasileiro, de 2002 para 2003, caiu 14%. E se for feita a projeção adotando-se os dados do IBGE, desde 1997, as perdas totais chegam a 25%. Essa é uma das principais razões que explicam os atuais patamares de produção e vendas no Brasil.

O subsetor de Obras Gerais teve uma queda de 8% em exemplares vendidos e um crescimento do faturamento em 6%, considerando apenas o mercado. Esse resultado é inferior à inflação, mas está compatível com a estagnação do PIB e da queda na renda média do brasileiro.

Quanto ao subsetor de Religiosos, apesar do crescimento em faturamento e produção (respectivamente, 5% e 1%), houve queda de 12% no total de exemplares vendidos. O tipo de edição que mais se destacou foi a Bíblia de luxo que, por ter preço acima da média, aumentou o faturamento geral e compensou a queda em vendas.

No caso dos livros categorizados como CTP, o ramo mais prejudicado foi o de livros universitários, que continua a sofrer pelo excesso de cópias ilegais. O ramo que teve menos impacto foi dos livros de direito e de negócios. O subsetor teve queda de 6% em vendas e aumento do faturamento em 4%.

Um dado interessante é que, em 2003, foram editados 35.590 títulos (queda de 11% em relação a 2002), dos quais 13.340 em primeira edição. Isso significou a produção total de 299,4 milhões de exemplares em 2003 (25% a menos que em 2002), dos quais 107,85 milhões em seu primeiro lançamento. Cada subsetor contribuiu com os seguintes totais de títulos lançados: 11.830 para Didáticos, 4.550 para Religiosos, 9.560 para CTP e 9.650 para Obras Gerais.

Para se ter uma idéia do que representa o chamado mercado editorial brasileiro, o faturamento global, em 2003, foi de R$ 2.363.580,00. Desse número, R$ 1, 908 milhões foram referentes a vendas diretas no mercado e o restante para o governo. Quanto ao total de exemplares vendidos, os números são, respectivamente, de 255.830.000 e de 145.000.000.

Finalizando com os números, devemos ressaltar que no mercado editorial existe uma participação muito grande de autores nacionais, pois estes foram responsáveis por 89% dos títulos lançados no Brasil, em 2003. Além disso, o mercado emprega perto de 21 mil pessoas nas casas editoriais do país.

Finalizando agora com a nossa conclusão, os profissionais que comandam e lideram processos gerenciais formam uma elite intelectual no país. Sem dúvida, carregam também a responsabilidade de, cada um em sua atividade, fomentar e colaborar para o fortalecimento do mercado editorial. E dele que nascerão as bases de informação para o bem-comum, o progresso e a cidadania.