Imagine a seguinte situação, mais do que normal em qualquer cidade do mundo. Você caminha pela rua e um casal simpático, aparentemente de turistas, pede-lhe para ser fotografado num local público. Gentilmente, você aceita ajudá-los e eles lhe entregam um telefone celular com máquina fotográfica, de ultima geração.
Claro, um deles explica onde apertar e até dá mais informações sobre o produto, o que você nem pediu. Feita a foto, eles agradecem e ainda comentam a maravilha de tecnologia que você teve a oportunidade de experimentar. Tão boa, interessante e moderna, que lhe dá vontade de ter uma e contar para os amigos. E então, vem a pergunta: eram mesmo turistas?
Pois é, com a evolução dos tempos, o Marketing criou algumas técnicas novas para divulgar produtos e serviços, numa adaptação daquilo que aprendemos a conhecer como promoções e degustação. Em alguns locais, tem se expandido o chamado Stealth Marketing, que especialistas traduziram como Subliminar mas, na minha concepção, é melhor identificado por Marketing Dissimulado.
Artistas conhecidos ou desconhecidos são contratados e, com cláusula de sigilo absoluto, executam um papel voltado à divulgação de um produto ou serviço, sempre demonstrando serem consumidores extremamente satisfeitos. É uma forma diferenciada daqueles testemunhais com celebridades identificadas pelo grande público, na mídia de massa, e chega ao cotidiano das ruas e das áreas de grande fluxo de pessoas.
Algumas grandes corporações têm investido milhões (de dólares...) nessa linha e, em certos casos, junto com os resultados surge a questão ética. Será muito difícil pautar os limites éticos a partir de um padrão restrito, mas a indústria farmacêutica mostra-se como exemplo para o qual se requer atenção. O que não significa abdicar-se de analisar as demais situações identificadas.
Fabricantes de cigarros contratam uma mulher bonita para flertar com um homem e convidá-lo a fumar, com ela. Mães acompanham os filhos em atividades culturais ou esportivas para falar bem de marcas de roupas ou calçados. Universitários bonitos, e com perfil de líderes em seus grupos, são contratados para enaltecerem uma determinada marca de bebida nas festas badaladas. Companhias internacionais contratam roteiros de filmes comerciais em que seu produto tenha destaque.
E então, chegamos ao que nos interessa. Na área musical, já há exemplos de casos em que a empresa paga para ter uma menção na letra de música, para seu produto ser utilizado por uma celebridade da música e, até mesmo, para jovens bonitos ficarem falando bem de um disco numa loja, em momento de grande movimento. E para o livro, o que pensam os marqueteiros?
Livro patrocinado não é novidade. Merchandising em um texto não chegaria a surpreender. Mas, doravante, passaremos a pensar duas vezes quando virmos pessoas falando bem de um livro dentro da livraria repleta ou, de outra forma, jovens distintos carregando ou lendo em local público, ostensivamente, um título recém-lançado. Ou mesmo, pode-se acreditar piamente no palestrante que recomendou a leitura de um texto profissional? Seria o Marketing, subliminar ou dissimulado, invadindo o mercado editorial?
Se alguém sentar-se ao seu lado numa biblioteca e sugerir a leitura de um livro muito bom, será verdade ou um estímulo dissimulado? Ou seja, o efeito é o do leitor entrar na onda, acreditar na mensagem marqueteira e comprar o livro. O artista cumpriu a sua tarefa de motivar o consumo, tal qual uma mensagem publicitária busca fazer na grande mídia.
Para alguns, isso não é ético.Para outros, é uma aplicação ética, eficaz e válida para dar divulgação a um novo título ou marca editorial. Como o consenso é complicado, neste caso, a avaliação da ética pode ter diferentes critérios para cada tipo de interesse? E para o leitor, editor, livreiro ou escritor, qual será a sua opinião?