Em todo final de ano são externadas expectativas de uma vida melhor, com coloridos de paz, felicidades, riquezas e sonhos. Vou entrar nesse bloco, com idéias para que o leitor faça uma reflexão a respeito e um pedido especial de atenção ao nosso famoso homem de barba branca.
Vou procurar resumir idéias que tenho abordado, há quase dez anos, em palestras e artigos publicados. De onde vem a riqueza de um país? Qual o segredo para um país ser mais rico que outro? Como fazer para que os brasileiros não sofram do mal da fome?
A resposta óbvia está no desenvolvimento da educação, da ciência e da tecnologia. É quase que uma corrente lógica pois, certamente, alcançar a terceira depende da valorização das duas primeiras. Por exemplo, alguém já pensou que um automóvel custa dezenas de milhares de dólares por tonelada e é composto por matérias-primas cujas tarifas nem de longe se aproximam desse valor? A diferença ou o valor que é agregado, isso está no desenvolvimento tecnológico.
Continuando no exemplo acima, mesmo depois de décadas, o Brasil ainda não detém totalmente a tecnologia de ponta na indústria automobilística, pois o que de fato aqui existe são montadoras. Daí, uma diferença conceitual importante a ser registrada, que nem sempre é compreendida por nossos governantes, economistas ou empresários, está entre desenvolver o conhecimento tecnológico ou poder usar a tecnologia dos outros.
Há casos de tecnologias em que somos líderes, como na área de exploração de petróleo em águas profundas. O resultado não veio por acaso, ele foi fruto de um investimento sério e planejado da Petrobras. Que coleciona outras vitórias em sua lista de bem sucedidas pesquisas, tais como um óleo lubrificante de primeira qualidade e uma gasolina que é a mais avançada do mundo, apenas para exemplificar.
Na petroquímica, foi a Petrobras que descobriu a tecnologia do índigo blue, economizando divisas para o país. Da mesma forma, muitos outros resultados foram conquistados por centros de pesquisas nacionais, ao longo dos tempos. Infelizmente, a constatação mais evidente é a de que a iniciativa privada não tem se mostrado tão motivada no assunto, restando ao gestor público garantir mais investimentos nesse campo.
É o avanço tecnológico que produzirá riquezas, avançando pelo novo e trazendo diferencial competitivo ao país. E é indiscutível que as conquistas tecnológicas dependem de prioridade e recursos, pois a inteligência brasileira é tão competente como a de qualquer outra nação. No mínimo, um argumento simplista é de que, na média, o cérebro de um cientista pesa o mesmo em qualquer lugar do mundo, e sua diferença está em como viabilizar que seja aplicado para o bem comum.
Um caso bem interessante ocorreu no final do Governo FHC, com a discussão sobre como usar a Base de Lançamento de Satélites de Alcântara. Segundo os padrões impostos pelos EUA, parceiro definido à época, haveria limitações tanto de acesso à informação para cientistas brasileiros como nos procedimentos alfandegários (inspeção dos malotes econtainers recebidos para fins do convênio). Ora, onde estaria a absorção de tecnologia, com todas essas restrições impostas? Iríamos nos contentar em só operar sofisticados equipamentos e dizer por aí que temos tecnologia espacial?
O Governo Lula assumiu e iniciou outras negociações, com outros países interessados e em novos termos. Os EUA perderam a garantia da operação dedicada da Base. Depois, num teste programado com uma satélite brasileiro, a instalação explodiu, de forma até agora não explicada, e o Brasil entrou em um compasso de espera para fazer parte do time que detém a tecnologia espacial.
Complementando, que 2004 faça com que, num rasgo de sabedoria, as áreas pública e privada possam ter mais investimentos em conhecimento agregado. Tanto elas vão crescer em competitividade como o Brasil vai poder conquistar novos espaços na constelação dos países desenvolvidos, melhorando os seus resultados comerciais a partir de uma própria tecnologia, ao invés de insistir em pagar caro as importadas, a custo de ouro, suor e lágrimas do cidadão brasileiro.
Ah! Por onde passa o Marketing nesse artigo?
"Elementar", como diria Sherlock Holmes ao seu fiel Watson. A marca Brasil, que tanto se quer valorizar no exterior através das viagens presidenciais e acordos bilaterais, depende de fatores e decisões estratégicas para que ela tenha valor percebido a partir de crescentes saltos de inserção tecnológica, em todas as dimensões e campos do conhecimento humano.
Aí sim, a tão sonhada e esperada riqueza nacional poderá contribuir com uma vida mais justa, tirando crianças do trabalho forçado, acabando com a escravidão indecente, distribuindo mais e melhor os ganhos de produtividade e lucratividade e acabando com a fome crônica de um terço da população brasileira. Que o homem de barba branca atenda este meu pedido!